O que parecia um movimento quase exclusivo do mercado norte-americano na era GameStop cruzou o Atlântico.
Desta vez, algumas das ações mais vendidas a descoberto (posições abertas na esperança de obter lucros caso o preço da empresa caia) por fundos de hedge na Europa se tornaram o centro de uma inesperada onda de compras impulsionada por investidores de varejo. Mas isso não é apenas mais uma história de Reddit contra Wall Street: é também um reflexo da mudança estrutural que o continente está vivendo.
Enquanto Washington impõe tarifas ao mundo todo e deixa claro que a Europa terá que assumir a responsabilidade por sua própria segurança, o Velho Continente responde não só com discursos, mas com cheques.
A Alemanha abriu as portas para uma nova era de gastos militares. O resultado: uma narrativa poderosa para justificar valorizações antes impensáveis em empresas como Hensoldt, Renk ou Latecoere. Não são nomes que costumam aparecer nas manchetes, mas suas ações dispararam bem acima do índice europeu de defesa, em parte graças aos fluxos de capital dos investidores de varejo.
A chave aqui não é apenas o crescimento esperado do setor, mas a combinação disso com posições vendidas maciças. A transparência regulatória europeia obriga fundos como Marshall Wace ou Millennium a declarar suas posições quando ultrapassam 0,5%, o que os deixa expostos ao escrutínio público... e a se tornarem alvos fáceis para traders organizados.
E quando uma empresa tem 80% ou mais de suas ações emprestadas, como era o caso da Eutelsat semanas atrás, não é necessário muito volume de compras para provocar um short squeeze violento. Alguns veem isso como uma anomalia; outros como uma ferramenta de justiça poética contra quem aposta no colapso.

Fuente: xStation5.
Especulação ou ativismo financeiro?
No Reddit, abundam mensagens que vão além do lucro financeiro. Muitos declaram abertamente a intenção de punir os gestores de ativos americanos e apoiar empresas estratégicas europeias. Idealismo? Talvez. Mas em um mercado onde a narrativa é tudo, a história pesa. E o fato de que algumas plataformas de trading reportam volumes 70 vezes superiores ao normal dá pistas claras do poder dessa nova onda.
Conclusão: entre a euforia e a estrutura
O salto nas ações europeias mais vendidas a descoberto não é apenas espuma. Há mudanças estruturais profundas: mais gastos em defesa, menos dependência dos EUA, pressão política pela reindustrialização. Mas também há riscos: quando as valorizações disparam sem respaldo dos fundamentos, a queda pode ser igualmente rápida. E nem todos os fundos estão fugindo: alguns estão apenas esperando para voltar pela porta dos fundos.
O que está claro é que a Europa já não é apenas espectadora do risco financeiro narrativo. Agora também protagoniza seus próprios capítulos. E o que estamos vendo pode ser apenas o começo.
Alejandro de Luis
Editor da Hispatrading Magazine, a revista de trading de maior circulação em espanhol, Alejandro trabalhou como trader em diversas sociedades de investimento e empresas de trading proprietário, além de atuar nas áreas de negociação e análise por quase duas décadas. Autor de vários livros sobre trading publicados em mais de cinco países, ministrou palestras e programas de especialização para audiências em mais de 40 países, incluindo alunos de diversas universidades europeias de prestígio.
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