Alerta de mercado: será que a Fed pode salvar o mercado altista?

07:23 5 de março de 2020

Os mercados adoram flexibilização monetária. É bastante consensual que o mercado em alta de 11 anos de Wall Street foi fortemente apoiado pelas medidas extraordinárias da Fed. Muitos começaram a acreditar que os bancos centrais conseguem resgatar os mercados de qualquer problema. Agora que o FOMC acaba de fazer um corte de emergência de 50 bps, a pergunta é mais urgente do que nunca: será que conseguem?

Fed em missão de salvamento

No último dia de negociação de fevereiro, a Fed emitiu uma declaração lacônica a dizer que a economia dos Estados Unidos estava em boas condições e que o Banco Mundial estava atento ao vírus. Na terça-feira, houve um corte de emergência de 50 pontos base (um movimento padrão é 25 pontos base). Essa é uma grande mudança de opinião em apenas alguns dias, e o mercado interpretou como sendo uma sugestão da Fed de que algo sério exigiu uma resposta séria. Normalmente, os mercados adoram relaxar. No ano passado, quando a Fed forneceu três cortes nas taxas e QE, num momento em que a desaceleração económica eram menor, esta manobra ajudou bastante as bolsas de valores. Não é de admirar que a primeira reação ao movimento de terça-feira tenha sido positiva. Mas e se o corte de emergência significar problemas no horizonte? Uma mudança tão rápida da narrativa do Fed sugere pânico no banco central?

O que é que a histónia nos diz?

Esta não é a primeira vez que a Fed faz um corte de emergência ou descomunal. VImos ações semelhantes em ocasiões como a bolha das Ponto.com, no colapso do LTCM, na crise bancária... Isso permite-nos acompanhar as respostas do mercado a essas ações. Selecionamos 7 respostas desse tipo nos últimos 50 anos. Havia mais, mas como alguns movimentos extraordinários ocorreram várias vezes durante uma única crise (por exemplo, três vezes durante a crise financeira global), escolhemos apenas a primeira resposta, para a analogia com o momento atual poder ser mais direto. Os resultados da análise foram, de facto, estranhos. O primeiro mês resultou num ganho médio de 1% para o S&P500 (US500), com os traders a receberem o estímulo de forma positiva. Os primeiros 3 meses tiveram um retorno negativo de 1,25%, o que significa que o problema não ficaram resolvido e a primeira reação reverteu-se. No entanto, o retorno anual do corte é superior a 5%, em média, sugerindo que a ação conseguiu ser bem-sucedida a médio prazo.

O corte de emergência do FOMC por si só não é uma receita para um mercado em alta. Fonte: Bloomberg, XTB Research

É preciso ter prudência com essa interpretação e estudar esses casos separadamente. Podemos ver que dois grandes rallies significativos ocorreram em 1980 e 1998. O segundo caso é muito direto - o corte do Fed foi uma resposta ao colapso do LTCM e, embora não houvesse problemas fundamentais na economia (ou pelo menos ainda não), o movimento ascendente foi incansavelmente. Em 1980, onde a situação fundamental era desastrosa, a recuperação ocorreu após a grande queda de 1979 (atualmente não é o caso) e antes de outra queda em 1981. O maior culpado foi 1974, a crise do petróleo. E os mercados também caíram em 2001 e 2007, mas nessas situações, ocorreu apenas uma insinuação de mercado baixista.

São os traders quem deve acompanhar a propagação do vírus, não o FOMC

Dito isto, podemos concluir o seguinte: o corte do FOMC não interrompe o mercado em baixa se o problema subjacente for realmente sério. Será esse o caso atual? Ainda não sabemos ao certo. Se os EUA e a Europa forem forçados a implementar as restrições comerciais ao estilo chinês (que levaram a -80% das vendas de carros em fevereiro - por exemplo), o caso seria muito sério. É por isso que os traders devem acompanhar os dados de propagação de vírus que compartilhamos todos os dias nos "Destaques da manhã”, que é o primeiro post de pesquisa na plataforma xStation.

A propagação do vírus tem sido rápida até agora. Fonte: Worldeters, XTB Research

Atenção ao OURO

Devemos dizer ainda que a resposta do preço do ouro tem sido consistente, em média. E este pode ser um fator a observar, numa altura em que os bancos centrais parecem estar a perder credibilidade.

Os preços do ouro subiram mais de 10% em 6 meses, após 7 cortes anteriores nas taxas de emergência. Fonte: Bloomberg, XTB Research

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