Warren Buffett deixa a presidência da Berkshire Hathaway e ações despencam

12:10 5 de maio de 2025

As ações da Berkshire Hathaway caíram cerca de 6% nas primeiras negociações de segunda-feira, após o anúncio feito no fim de semana: Warren Buffett, lenda dos investimentos e considerado o maior investidor de todos os tempos, comunicou que deixará o cargo de CEO da empresa. A notícia foi revelada nos minutos finais da 60ª assembleia anual de acionistas da Berkshire, que reuniu cerca de 40 mil pessoas em Omaha, Nebraska.

Um legado incomparável

Seja ganancioso quando os outros estiverem com medo”. Esse foi um dos principais lemas de Warren Buffett. Conhecido como o Oráculo de Omaha, ele assumiu o controle da Berkshire Hathaway em 1965, quando a companhia era uma tecelagem falida com ações cotadas abaixo de 20 dólares, e desde então a transformou em uma das empresas mais valiosas dos Estados Unidos.

Na sexta-feira, as ações Classe A da Berkshire Hathaway fecharam em um recorde de 809.809 dólares, com um valor de mercado de 1,2 trilhão de dólares, tornando-a a oitava maior empresa do país. A avaliação da empresa atingiu seu nível mais alto em mais de 15 anos, com uma relação preço/valor patrimonial em torno de 1,8 vez, acima da média histórica de 1,5 vez. Desde que Buffett assumiu o comando, as ações multiplicaram-se por 40 mil, com um retorno anualizado de 19,9% até o fim de 2024, frente aos 10,4% do S&P 500.

Diferente de muitos gestores que temem um ano ruim, Buffett nunca se esquivou das perdas: teve onze anos negativos, incluindo quatro na sua primeira década na Berkshire e uma queda de 49% durante o colapso das Nifty Fifty em 1974.

Sua lenda ganhou ainda mais força durante a crise financeira global de 2008, quando aproveitou o momento para investir em Goldman Sachs, General Electric e Dow Chemical, após ter acumulado liquidez nos anos anteriores — estratégia que voltou a adotar recentemente.

Outro ponto notável é que a Berkshire não distribui dividendos e só recentemente começou a recomprar ações. Buffett sempre defendeu que seu histórico comprova que é capaz de gerar retornos superiores aos do mercado ou dos próprios acionistas.

Desempenho financeiro: um trimestre difícil

Para 2025, projeta-se que as ações da Berkshire Hathaway avancem 20%, em contraste com uma queda de 3,3% no índice S&P 500. No entanto, no sábado, a empresa divulgou sua maior queda no lucro operacional trimestral desde 2020 e alertou sobre uma “incerteza considerável” quanto às políticas comerciais internacionais e tarifas.

O lucro líquido atribuível aos acionistas no primeiro trimestre caiu 63,8% em relação ao ano anterior, totalizando 4,6 bilhões de dólares.

A gigante sediada em Omaha não realizou recompras de ações no trimestre. Em contrapartida, sua liquidez atingiu um recorde de 347,68 bilhões de dólares em 31 de março de 2025, frente a 334,2 bilhões em 31 de dezembro de 2024.

A Berkshire possui operações significativas em seguros patrimoniais e de responsabilidade civil, incluindo a Geico, a terceira maior seguradora de automóveis dos EUA. A empresa também controla a ferrovia Burlington Northern Santa Fe e a Berkshire Hathaway Energy, uma das maiores concessionárias de energia do país.

O setor de seguros é dividido entre decisões de subscrição, sob responsabilidade das unidades operacionais, e de investimento, realizadas diretamente por Warren Buffett.

Neste cenário, os segmentos de seguros (subscrição), manufatura, serviços e varejo foram os que apresentaram pior desempenho no primeiro trimestre, enquanto as receitas de investimentos em seguros, operações ferroviárias e da unidade de energia mostraram resultados positivos.

O lucro líquido das operações de seguros por subscrição caiu 48,6% ano a ano, em razão de prejuízos causados pelos incêndios florestais no sul da Califórnia, estimados em 860 milhões de dólares. Por outro lado, o aumento nos juros dos títulos do Tesouro dos EUA contribuiu para um crescimento de 11,4% no lucro líquido proveniente dos investimentos em seguros.

No setor ferroviário, o lucro líquido trimestral da BNSF cresceu 6,2% em relação ao mesmo período do ano anterior, alcançando 1,21 bilhão de dólares.

Greg Abel: o escolhido para suceder Warren Buffett

O atual diretor de operações (COO), Greg Abel, foi escolhido para suceder Warren Buffett. Além de atuar como COO, Abel também é presidente da unidade Berkshire Hathaway Energy.

Nascido em 1962 no Canadá, Abel iniciou sua trajetória no setor financeiro, transformando a CalEnergy — então uma pequena empresa geotérmica com 500 funcionários — em uma companhia global com 23 mil empregados. Ele ocupou cargos executivos de 1992 a 2008 e depois se tornou CEO. Em 1999, a CalEnergy passou a se chamar MidAmerican Energy e, em 2014, foi incorporada à holding Berkshire Hathaway Energy.

Hoje, a BHE opera empresas reguladas de energia nos EUA, como PacifiCorp e NV Energy, além da Northern Powergrid no Reino Unido. Em 2018, Abel foi nomeado vice-presidente das operações não seguradoras da Berkshire, consolidando-se como o sucessor natural ao lado de Ajit Jain, que comanda o setor de seguros.

Agora, após construir uma das maiores empresas de energia dos EUA, Greg Abel assume o desafio de liderar uma das maiores companhias do mundo, sucedendo diretamente seu mentor, Warren Buffett.

Buffett entregará a direção de um gigante avaliado em 1,2 trilhão de dólares, com um portfólio de ações como Apple e American Express, além de empresas nos setores de seguros, energia, ferrovias e consumo, que geram regularmente 10 bilhões de dólares por trimestre em lucro operacional. Aos 62 anos, Abel também herdará uma série de desafios, começando por definir o destino dos quase 350 bilhões de dólares em caixa da Berkshire, após anos em que Buffett se manteve cauteloso diante da volatilidade dos mercados.

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