O preço do petróleo atingiu a marca dos $130 por barril, mas as tensões geopolíticas ameaçam uma nova escalada dos preços
Se no ano passado disséssemos que os preços do petróleo poderiam atingir a marca dos 100 dólares por barril, provavelmente acharíamos este cenário quase impossível. Mesmo quando a invasão russa da Ucrânia começou, muitos investidores acreditavam que os preços não iriam conseguir ultrapassar a marca dos 120 dólares por barril.
No entanto, todos estes cenários, que eram considerados como improváveis, acabaram por se concretizar. Mas, ao contrário de muitas outras commodities, os preços do petróleo ainda não atingiram novos máximos históricos.
Fica então a questão é - até que valores poderá o petróleo valorizar?
Estará o fornecimento de petróleo em risco?
- A produção de petróleo da Rússia ronda cerca de 10 milhões de barris por dia, sendo metade exportada como petróleo bruto e cerca de 3 milhões de barris por dia como produtos derivados de petróleo
- O mercado petrolífero precisa de ser equilibrado a fim de-se evitar a volatilidade dos preços, que resulta do choque entre a procura e a oferta
- A Rússia exporta cerca de 2m bpd através de gasodutos e cerca de 6m bpd através de navios petroleiros
- As exportações para a UE ascendem a cerca de 4m bpd, com cerca de 1m bpd a ser exportado através de gasodutos
- As empresas ocidentais começaram a cortar as relações comerciais com a Rússia. Sendo que estas medidas poderão levar ao congelamento de cerca de 3m bpd das exportações russas.
- No entanto, principalmente a Europa, tentará reduzir o consumo de petróleo e procurará também alternativas no fornecimento de matérias-primas energéticas
- A atual situação é diferente à do período de 2007-2008, mas podemos retirar algumas lições do passado
O que podemos aprender com a história?
Choque petrolífero dos anos 90 em comparação com a situação atual
Cerca de 4,5 milhões de bpd de petróleo foram "congelados" na sequência da invasão iraquiana do Kuwait nos anos 90, o que representou cerca de 7-8% da procura global nessa altura. Em teoria, a atual situação é muito semelhante. Embora a quantidade de petróleo que está em risco seja menor, o maior risco é que a maior parte deste petróleo tenha sido exportado para a Europa. Os preços do petróleo subiram cerca de 140% após o início da invasão iraquiana, mas voltaram aos níveis pré-invasão em menos de 1 ano.
Assumindo que os preços continuarão a comportar-se de forma semelhante, o pico poderá ser atingido perto dos 150 dólares por barril, levando assim o preço da matéria-prima a atingir ATH. Fonte: Bloomberg, XTB
Crise de 2007-2008 em comparação com a situação atual
Embora os fatores que levaram ao aumento dos preços do petróleo em 2007-2008 tenham sido diferentes dos factores que estão agora a impulsionar os preços do petróleo, mesmo assim podemos encontrar algumas semelhanças.
Nessa altura a oferta também estava a recuperar, mas o aumento substancial dos preços acabou por prejudicar a procura, acabando mais tarde por provocar uma forte correção dos preços.
O comportamento atual dos preços é semelhante ao período de 2007-2008. Fonte: Bloomberg, XTB
Como é que podemos acompanhar a evolução da procura?
Goldman Sachs (GS) divulgou recentemente uma interessante análise dos preços do petróleo e sobre o impacto que pode ter na procura. O GS pensa que os preços do petróleo possam vir a atingir a marca dos $200 por barril levariam a um mercado equilibrado através da diminuição drástica da procura na ordem dos 5-6m bpd (exportações russas).
Será que a China está pronta para comprar mais petróleo russo? Que países poderão ser uma alternativa para o fornecimento de petróleo para a Europa?
China
- A China tem capacidade para comprar todo o petróleo russo que a Europa deixará de importar
- A China está actualmente a importar cerca de 10 milhões de barris de petróleo por dia. No entanto, já esteve a importar cerca de 12,7m bpd
- O aumento das importações pode permitir o reabastecimento de reservas que diminuíram cerca de 100 milhões de barris desde os máximos em Novembro de 2020
- A Rússia exporta a maior parte do seu petróleo através de petroleiros LR e MR. As exportações russas de petróleo exigem cerca de 10% da frota global desses navios.
Europa
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O Acordo nuclear com o Irão continua a ser um ponto relevante. O Irão tem cerca de 100 milhões de barris de petróleo em armazenamento off-shore. A retoma da produção iraniana poderá recuperar cerca de 0,5-1,5% do fornecimento de petróleo
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Os EUA estão em conversações avançadas com a Venezuela sobre o levantamento das sanções petrolíferas. A Venezuela poderia duplicar a sua produção, para cerca de 1,5 milhões de bpd, se as sanções fossem levantadas. Os EUA querem que o petróleo venezuelano seja enviado directamente para os Estados Unidos, o que permitiria que 1-1,5 milhões de bpd de fornecimento dos EUA fossem enviados para a Europa.
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O número de plataformas petrolíferas activas nos Estados Unidos situa-se em cerca de 500. Na época pré-Covid era superior a 800. Cada plataforma activa equivale em média a 1k bpd de aumento de produção. Os produtores de xisto dos EUA poderiam aumentar a produção em cerca de 300k bpd este ano. A AIE espera que seja de 200k bpd
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As metas em torno da produção definidas pela OPEC+ estão cerca de 700k bpd inferiores às acordadas. No entanto, isto resulta de problemas com o restabelecimento da produção
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A OPEP tem a capacidade para aumentar a produção em cerca de 5m bpd, metade da capacidade da Arábia Saudita, nos Emirados Árabes Unidos e no Iraque
Fonte: xStation5
Quanto é que podemos vir a pagar pelo petróleo?
Ainda não se sabe se a Rússia decidirá ou não proibir as exportações de produtos energéticos. No entanto, as empresas ocidentais começaram a cortar as relações com a Rússia e deixaram de comprar petróleo russo no mercado spot. Se o fornecimento de até 3m bpd for congelado, o preço do petróleo poderá mesmo disparar em direção aos 150-165 dólares por barril. Por outro lado, se a China aumentar as compras de petróleo russo enquanto os outros produtores aumentam a produção com o objetivo de começarem a vender à Europa, os preços do petróleo podem descer abaixo dos 100 dólares logo este ano.Fonte: xStation5