Análise Macroeconómica de Portugal
- Em relação à produção nacional, os dados do PIB preliminares apontam para uma desaceleração mais forte na economia portuguesa para o terceiro trimestre deste ano, com uma queda de 0,2% QoQ. Em termos homólogos, o crescimento do PIB continua a ser positivo, com os dados preliminares a apontarem para 1,6% de crescimento este ano.
- No que toca ao mercado de trabalho, a economia portuguesa continua bastante resiliente, já que o desemprego permanece na marca dos 6,1%, estando próximo do nível de “pleno emprego”.
- Já no caso da inflação, os preços têm estado a cair de forma progressiva, atingindo no mês de outubro uma inflação de 2,11% YoY e uma queda nos preços numa base mensal de 0,2% MoM. Relativamente à inflação subjacente, esta ainda permanece nos 3,51% (no mês anterior situava-se nos 4,06% YoY), mas o ritmo das quedas continua a intensificar-se. Se as descidas nos mercados petrolíferos continuarem a verificar-se, é provável que esta segunda métrica tenha quedas ainda mais rápidas.
- No que respeita à balança comercial, a mesma permanece em terreno negativo, encontrando-se cerca de 2,2 mil milhões de euros negativa (encontrava-se nos -2,4 mil milhões de euros em agosto), dados referentes a setembro.
- Em relação às vendas a retalho, Portugal sofreu uma queda acentuada de -3,1% no mês de setembro MoM. No mês de agosto, a queda permaneceu, mas com um ritmo mais lento de -0,3%. Já numa base anual, setembro apresentou números positivos em 1,2% YoY.
- Falando nas poupanças das famílias, os dados de março apresentaram uma taxa de poupança mais baixa desde 2017, situando-se nos 5,9%, um dado preocupante dado as elevadas taxas de juro, pois o facto das famílias portuguesas terem menos rendimento disponível aumenta o risco de incumprimento com as suas obrigações de dívida, como o crédito à habitação.
- Por último, a confiança dos consumidores também diminuiu em outubro, caindo dos -22,9 para os -25,1 em relação a agosto.
Mercado Acionista
O PSI teve um desempenho positivo de 9,49% desde o início do ano, em linha com os principais indicadores macroeconómicos.
As empresas com a melhor desempenho YTD:
- Mota-Engil (177,54%)
- BCP (98,04%)
- Ibersol (19,93%)
As empresas com pior desempenho YTD:
- EDPRenováveis (-23,02%)
- Greenvolt (-14,15%)
- EDP (-8.79%)
Mercado Obrigacionista
As obrigações a 10 anos tiveram um desempenho positivo, o que resultou numa queda das yields de aproximadamente 10%, situando-se agora nos 3,225% de rendimento (yield). A melhoria do rating da dívida veio ajudar nesta matéria, tendo encurtado o spread entre as obrigações portuguesas e alemãs (de referência). Isto permitirá que Portugal obtenha financiamento futuro a menor preço.
Perspetivas para o próximo ano
Será certamente um ano desafiante, pois as taxas de juro encontram-se em máximos de 22 anos. As famílias e empresas estão com níveis de dívida elevados, o que representa riscos para um abrandamento mais forte do consumo e também risco de incumprimento com as obrigações de dívida. Em simultâneo, o Estado apresentou um orçamento que visa ter a maior carga fiscal de sempre, o que pode ainda retirar mais rendimento disponível às famílias. Por outro lado, as contas públicas têm melhorado substancialmente, com reduções significativas da dívida pública em percentagem do PIB e com melhorias no rating da dívida nos mercados internacionais - tal permite uma diminuição da carga dos juros paga pelo Estado. O abrandamento macroeconómico global pode impactar as exportações portuguesas, o que provocaria uma deterioração da balança comercial e enfraquecimento de muitas pequenas e médias empresas exportadoras. Por outro lado, devemos estar atentos ao preço do mercado petrolífero, pois poderá ter impacto direto no desenvolvimento da inflação dos próximos meses. Deveremos também ter especial atenção ao desenvolvimento do emprego nestes próximos meses, uma vez que deverá dar pistas mais concretas em relação ao rumo do país. Vejamos que se o desemprego começar a galopar, poderá comprometer todos os dados futuros.
O FMI indica para o próximo ano um abrandamento do crescimento económico em linha com a Grécia e Espanha, fixando-se nos 1,5% e no que respeita ao emprego um aumento para os 6,5%. A OCDE prevê o mesmo ritmo de crescimento para Portugal em 2024 e agravamento no mercado de trabalho para os 7,5%.
As expectativas para as reduções das taxas de juro na Zona Euro estão a ser fixadas para lá de julho de 2024, o que indica que um esforço adicional das famílias vai permanecer ao longo de todo o ano de 2024. No que toca ao mercado acionista, a expectativa será para ficar um pouco abaixo dos desempenhos dos principais índices europeus, já que não existe nenhum catalisador positivo com impacto nas maiores empresas portuguesas que proporcione um melhor desempenho do PSI em relação ao resto dos pares europeus. Em relação ao mercado obrigacionista, podemos esperar mais quedas nos rendimentos das obrigações do tesouro, encurtando o spread com a Alemanha.
Estimativas para as economias europeias (Outubro 2023). Fonte: FMI
Estimativas dos principais indicadores económicos de Portugal (Junho) . Fonte: GEE/OCDE
Autor: Vítor Madeira